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terça-feira, 16 de setembro de 2008

HISTÓRICO DA CIDADANIA

O que é cidadania?

Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade para melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca se esquecer das pessoas que mais necessitam. A cidadania deve ser divulgada através de instituições de ensino e meios de comunicação para o bem estar e desenvolvimento da nação.
A cidadania consiste desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros, respeitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como todas às outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer obrigado, desculpe, por favor e bom dia quando necessário... até saber lidar com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas, o direito das crianças carentes e outros grandes problemas que enfrentamos em nosso país.
"A revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre para garantir os interesses coletivos: mas é também o mais imperioso dos deveres impostos aos cidadãos."Juarez Távora - Militar e político brasileiro.

Como surgiu a cidadania?

A idéia de cidadania surgiu na Idade Antiga, após a Roma conquistar a Grécia (séc. V d.C.), se expandindo para o resto da Europa. Apenas homens (de maior) e proprietários de terras (desde que não fossem estrangeiros), eram cidadãos. Diminuindo assim a idéia de cidadania, já que mulheres, crianças, estrangeiros e escravos não eram considerados cidadãos.

Na Idade Média (2ª era - séc. V até XV d.C.), surgiram na Europa, os feudos (ou fortalezas particulares). A idéia de cidadania se acaba, pois os proprietários dos feudos passaram a mandar em tudo, e os servos que habitavam os feudos não podiam participar de nada.
Após a Idade Média, terminaram-se as invasões Bárbaras, terminando-se também os feudos, entrando assim, em uma grande crise. Os feudos se decompõem, formando cidades e depois países (Os Estados Nacionais).

Entra a 3ª era (Idade Moderna - séc XV ao XVIII d.C). Os países formados após o desaparecimento dos feudos foram em conseqüência da união de dois grupos: o Rei e a Burguesia.
O Rei mandava em tudo e tinha um grande poder, graças aos impostos que recebia. Com todo esse dinheiro nas mãos, o rei construía exércitos cada vez mais fortes, além de dar apoio político à Burguesia.
Em conseqüência dessa união, a Burguesia ficava cada vez mais rica e era ela quem dava apoio econômico aos Reis (através dos impostos).
Com o tempo, o Rei começou a atrapalhar a Burguesia, pois ele usava o poder para "sacaneá-la". A Burguesia ficava cada vez mais rica e independente, vendo o Rei como um perigo e um obstáculo ao seu progresso. Para acabar com o Absolutismo (poder total do Rei), foram realizadas cinco grandes revoluções burguesas:
· Revolução Industrial;
· Iluminismo (Revolução Filosófica)
· Revolução Francesa (A maior de todas);
· Independência dos Estados Unidos;
· Revolução Inglesa.
Todas essas cinco revoluções tinham o mesmo objetivo: tirar o Rei do poder.
Com o fim do Absolutismo, entra a Idade Contemporânea (séc. XVIII até os dias de hoje), surgindo um novo tipo de Estado, o Estado de Direito, que é uma grande característica do modelo atual. A principal característica do Estado de Direito é: "Todos tem direitos iguais perante a constituição", percebendo assim, uma grande mudança no conceito de cidadania.
Por um lado, trata-se do mais avançado processo que a humanidade já conheceu, por outro lado, porém, surge o processo de exploração e dominação do capital.
A burguesia precisava do povo e o convencia de que todos estavam contra o Rei e lutando pela igualdade, surgindo assim, as primeiras constituições (Estado feito a serviço da Burguesia).
Acontece a grande contradição: cidadania X capitalismo. Cidadania é a participação de todos em busca de benefícios sociais e igualdade. Mas a sociedade capitalista se alimenta da pobreza. No capitalismo, a grande maioria não pode ter muito dinheiro, afinal, ser capitalista é ser um grande empresário (por exemplo). Se todos fossem capitalistas, o capitalismo acabaria, ninguém mais ia trabalhar, pois não existiriam mais operários (por exemplo).
Começaram a ocorrer greves (pressão) contra os capitalistas por parte dos trabalhadores, que visavam uma vida melhor e sem exploração no trabalho.
Da função de político, o homem passa para a função de consumidor, o que é alimentado de forma acentuada pela mídia. O homem que consome satisfaz as necessidades que outros impõem como necessárias para sua sobrevivência. Isso se mantém até os dias de hoje (idéia de consumo). Para mudar essas idéias, as pessoas devem criar seus próprios conceitos e a escola aparece como um fator fundamental.

Carta ao jovem

Caro jovem, não permita que a idéia de que somos desinteressados da realidade em que vivemos se prolifere: levante, lute e combata. Enquanto houver uma criança passando fome não se pode falar em felicidade e, muito menos, em cidadania. Conquiste seu título honroso de cidadão combatendo as atrocidades que hoje se alastram por cada canto de nossa sociedade. Através da cidadania é que iremos alcançar uma melhor qualidade de vida humana.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE JOSUÉ DE CASTRO

Não poderíamos deixar passar em branco, a data que marca o centenário de nascimento do "profeta do futuro", Josué de Castro. Ele que cientificamente e humanamente, decifrou os enigmas da fome, principalmente no sertão nordestino, que serviu de laboratório para seus estudos e de ponte para universalização de tais pensamentos. Sendo o primeiro pensador a se preocupar com a forma de nutrição dos brasileiros, tanto das regiões mais urbanizadas, como das regiões mais remotas, ele registrou um mundo até então desconhecido dos mais sarciados e dos poderes públicos. "Sem fazer alarde, silênciosa e sorradeira, como um bicho que se enfia pelo mato, a fome corrói os lares miseráveis do Sertão nordestino e do brejo dos canaviais. Faz estrago sem pressa, matando aos poucos, surda e continuadamente, seu exército de famintos"(Jornal do Comércio,caderno especial 04/09/08).
Para homenagear Josué de Castro, faremos um breve esbolço de sua biografia e de sua ligação com o fenômeno fome.
- BIOGRAFIA
Pernambucano pobre do Recife filho de retirantes da seca nordestina.
Aos 21 anos concluiu o curso superior de Medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Três anos depois, em 1932, torna-se livre-docente em Fisiologia da Faculdade de Medicina do Recife com a tese “O problema fisiológico da alimentação no Brasil”. Esta tese já indica para a importância que o autor atribui ao campo da nutrição, o que caracterizará toda sua obra.
Em 1935 se muda para o Rio de Janeiro onde assume a cátedra de Antropologia da antiga Universidade do Distrito Federal e em 1940 se torna professor catedrático de Geografia Humana na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Neste período é importante destacar a publicação de “A Alimentação Brasileira à Luz da Geografia Humana” de 1937, sendo esta publicação a primeira na qual Josué de Castro se posiciona claramente em favor do “método geográfico”. Deve-se destacar que o início e meados do século XX são marcados por diversas obras que vão tratar especificamente da realidade brasileira. Entre essas obras podemos destacar “Casa-Grande & Senzala” (1933) de Gilberto Freyre, “Raízes do Brasil” (1936) de Sérgio Buarque de Holanda, e “Formação do Brasil Contemporâneo” (1942) de Caio Prado Júnior. Esse momento de efervescência de um “pensamento brasileiro” certamente influencia e é influenciado por Josué de Castro.
Tratando mais diretamente da Geografia brasileira é imprescindível apontar para sua institucionalização a partir da década de 30. São Paulo e Rio de Janeiro se tornam referência para a Geografia nacional e têm uma característica em comum: ambas são fortemente ligadas à escola francesa de Geografia que chega ao país através das “missões francesas”. A relação com os professores franceses como Pierre Deffontaines, por exemplo, certamente influenciou o modo como Josué de Castro passa a encarar a ciência geográfica e seu método de pesquisa.
Com relação ao contexto político, tendo em vista o cenário nacional, pode-se dizer que Josué de Castro viveu três fases da história nacional (divisão proposta por Boris Fausto). De 30 à 45 vive sob o governo de Vargas, de 45 à 64 vive a curta experiência democrática e de 64 até 73 presencia a tomada de poder por parte dos militares,quando é exilado(nada menos do que 14 paises desenvolvidos ofereceram exilio, todos ricos) por suas idéias "socialistas"-propós melhor divisão de renda. Morou na França até sua morte,quando a filha quis que ele fosse enterrado no Brasil e o governo usou de muita burocracia para trazer o corpo. Já com relação ao contexto político internacional, Josué de Castro testemunha os horrores da Segunda Guerra Mundial e vive intensamente a polarização do mundo em torno de EUA e URSS durante a Guerra Fria.
-FENÔMENO FOME
Mais uma vez é necessário citar o contexto em que Josué de Castro viveu para entendermos o porque da escolha da temática da fome. O próprio Josué de Castro revela no prefácio de seu romance “Homens e Caranguejos” intitulado “A descoberta da fome” que foi nos mangues e alagados de Recife que tomou conhecimento da fome.
Sua vida e sua obra são marcadas por essa experiência e mesmo após se formar em Medicina e tornar-se reconhecido, Josué de Castro sempre travou uma luta contra a fome. Prova disso é seu estudo de 1935 “Condições de Vida das Classes Operárias do Recife” onde, após poucos anos de ter completado sua formação como médico, dirige um estudo voltado para as condições de vida (com ênfase nas condições de moradia e alimentação) das classes mais pobres do Recife.
Mas a opção pelo fenômeno da fome não é dada somente pelo contexto. É importante notar que esta opção é também intencional e tem seu caráter político. Josué visa através dela agitar tanto o meio acadêmico como o meio político nacional e internacional, que por anos virou as costas para este grave problema que afetava grande parte da população.
Seguramente neste momento Josué rompe com muitos limites de sua época e ele sabe que o está fazendo, pois ele próprio diz ser necessário derrubar o tabu que existe por trás do tema da fome.
O primeiro passo no estudo do fenômeno da fome na obra de Josué de Castro deve ser o de precisar o conceito de fome que o autor desenvolve. Este conceito foi claramente exposto em seu livro “Geografia da Fome” no terceiro item do prefácio intitulado: “Nosso conceito de fome: as fomes individuais e coletivas. As fomes totais e parciais. As fomes específicas e as fomes ocultas.” (CASTRO, 1946) Neste ponto Josué de Castro afirma que irá tratar especificamente da fome coletiva seja ela endêmica (permanente) ou epidêmica (transitória), seja ela total (inanição) ou parcial ou oculta. Josué de Castro confere uma atenção especial para a fome parcial ou oculta por esta, segundo ele, ser mais freqüente e atingir uma maior parte da população.
É de extrema importância notar que Josué de Castro não irá restringir o conceito de fome, ao contrário, utilizará este conceito, mesmo quando outros autores utilizariam conceitos como o de subnutrição ou desnutrição. Esta opção em “abrir” o conceito tem razões científicas, pois como ele mesmo aponta, a fome parcial além de ser mais freqüente também seria mais grave. Ao mesmo tempo tem razões políticas, pois assim a fome não poderá ser tratada como um fenômeno restrito às “regiões longínquas” como o Oriente e a Europa do pós-guerra.
Tornar pública a existência da fome através da denúncia de suas causas e conseqüências foi o grande objetivo de duas das maiores obras de Josué de Castro, a primeira publicada em 1947, “Geografia da Fome”, e a segunda publicada em 1951, “Geopolítica da Fome”.
A diferença teórico-metodológica é praticamente nula entre ambas, sendo a escala de análise a principal modificação de uma para a outra. Josué de Castro aponta no prefácio de “Geografia da Fome” duas razões que o levaram a pensar em escrever esta obra em diferentes volumes. A primeira se refere à extensão do fenômeno da fome que abrange todos os continentes e a segunda se refere a possibilidade de lançar volumes separadamente sem prejudicar o conteúdo da obra como um todo.
Em ambos os livros Josué inicia sua apresentação do fenômeno da fome através de um tratamento mais teórico da questão. Este tratamento tem como objetivo dar base para que o leitor possa entender o conteúdo que virá a seguir, ou seja, dar instrumento para que o leitor entenda o conteúdo dos estudos das regiões afetadas pelo drama da fome.