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quarta-feira, 22 de abril de 2009

CASA DO POETA SE CONSOLIDA COMO ESPAÇO CULTURAL INDEPENDENTE QUE HONRA O NOME DE WALMAR

Sempre buscamos a oportunidade ou uma alternativa para mostrar a força da poesia e música sertanienses, que nada fica a dever a outros centros mais conhecidos. Talvez por falta de organização ou de interresse para divulgar. Como diz o meu amigo , parceiro e artista Zé Luiz, muitas vezes a gente admira a grama do vizinho, Sem perceber a beleza da nossa. Q uem como o cantor e compositor Zé Luiz chega a Sertânia e se depara com a nossa fertilidade poético-musical percebe o que muitos daqui não enxergam, se seduzem e se apaixonam, como ele, que compôs "PRINCESA DA POESIA", cantando a magia da cidade de poetas, seus gênios e loucos, suas musas, ladeiras , bares, paisagens, natureza enfim. Eu, desconfia que como diz o poeta Alberto Oliveira só os poetas tem premonições.

Há muito tempo que precisavámos de um espaço cultural em Sertânia. Desde 2001 quando passamos a frequentar o boteco Ingericana, do nosso amigo Zé Mago,ainda na rua dos Guararapes, onde morou Pinto do Monteiro, que alimentávamos esta idéia, diante da falta de ação do poder público em criar um ponto para os artistas mostrarem em seu trabalho. Quando Zé Mago mudou-se para a Rua das Tabocas, em 2006 vimos esta possibilidade pois lá já havia até um palco , além do local ser maior.

Em nossas conversas com Zé Mago e sua esposa Nininha, percebemos que eles valorizavam muito a cultura de Sertânia, a ponto de comprar todos os cds de artistas da terra e mandarem cópias para os filhos e irmãos que moram fora.Também tivemos conhecimento de que seus irmãos eram poetas :Antônio Belo(Tonho Murilo), Joaquim Belo (Quinca) e Maria Inês Oludé, Que com o irmão Emanuel Belo (Maninho), foram perseguidos e presos na época do golpe de 64 , juntamente com Zé Andrade, João Belarmino e Adilson Freire . Zé e Nininha foram que juntaram os livros deles enterraram no quintal da casa do pai de Nininha, na rua Monte Castelo. Maria Inês, a quem tive o prazer de conhecer pessoalmente, foi exilada e presa na Argentina , acusada de ser guerrilheira.Só foi solta graças a mãe de Zé Mago e Nininha terem procurado Dom Hélder Câmara e este ter escrito uma carta para a ONU. Inês acabou sendo exilada para Bélgica, onde vive em Bruxelas até hoje, sendo cordenadora da revista do BRASIL NA Europa e da BIENAL DE ARTES DO BRASIL NA BÉLGICA. P

Posteriormente, elaboramos um cordel satírico " A IGREJA INGERICANA -ANAIS DO BAR DE ZÉ MAGO", cujo lançamento foi lá, estando presentes, eu ,Tota Góis, Gato Novo, Geraldo Valdevino, César Amaral, entre outros. aí começou a especulação para se fazer outras coisas naquele espaço. Lá , na noite de 19 de Fevereiro de 2008, eu, Gabriel Oscar, Edivanildo Nunes, Zé Luiz, Ricardo Mariano, Gilmarques Andrade, Nando Nascimento, Paulo Mariano fundamos a SAPECAS-sociedade dos poetas, escritores, compositores e artistas de Sertânia, numa noite regada por café e bolacha. Zé sempre abriu espaço lá para nossas reuniões mesmo sem a gente consumir nada. Posteriormente passamos a usar refrigerantes , petiscos e bebidas, em nossas reuniões, sempre encerradas com recitais.Outros poetas e admiradores juntaram-se a nós: João Lúcio, Luiz Pinheiro Filho, Antônio Amaral, Gaudêncio Neto, Espedito Matos, Tota Góis, Jaciel e sócios correspondentes: Duval Brito e Zé Andrade, em Paulo Afonso-BA e Natal -RN, respectivamente.

A SAPECAS seguiu em seus projetos, realizando a EXPOESIA, o POETAS NAS ESCOLAS e a OFICINA A ARTE DE FAZER VERSOS, bem como o show poético musical "Água Fria de Alagoa de Baixo", principalmente naEscola. Em janeiro deste ano, resolvemos criar lá no boteco Ingericana, do nosso amigo Zé Mago, "A Casa do Poeta", instalando alí um varal de poemas dos poetas de Sertânia. Resolvemos dar o nome de Walmar ao espaço Cultural, que é o palco em que os artistas lá se apresentam , pois assim como outros poetas sertanienses que são esquecidos pelos poderes públicos, Walmar(que não tem nem uma rua ou praça em Sertânia com o seu nome), foi uma das pessoas que mais divulgou o nome da cidade lá fora, e com sua arte enriqueceu ainda mais a nossa cultura. Além do mais foi na Rua das Tabocas, onde localiza-se a casa do poeta, a rua onde Walmar morou por longo tempo, logo que chegou da zona rural para estudar no que chamamos de " rua".

Na Casa do Poeta o espaço é aberto para qualquer artista da terra ou visitante. O microfone é livre para expressão artística, não havendo censura ou discriminação por nível econômico, social ou cultural, tampouco preconceito de raça, cor ou religião, muito menos por opção político-partidária. Lá as diferenças são respeitadas e estimuladas e os artistas e o frequentadores convivem num clima de união e partilha. A
gastronomia do boteco também se identificou com o perfil de nosso projeto, o MECARTES-MOVIMENTO CULTURAL RAÍZES DA TERRA, que busca incentivar e valorizar a culinária regional- sertaneja: maxixe com bacalhau, galinha de capoeira com arroz de leite, sarapatel e bode com cuscuz, além de cachaça enraizada.
Estamos recebendo sugestões e críticas, pois estamos abertos a ambas e queremos que todos os que ali frequentam ou querem frequentar participem e opinem , pois lá é um espaço que não pertence a A ou B , mas
a CULTURA DO POVO DE SERTÂNIA.

O I e II EMPOSSAR, as cantorias de viola e os recitais realizados este ano na CASA DO POETA foram sucesso absoluto e consolidam o espaço cultural Walmar como ponto da poesia e da música em Sertânia, honrando a arte de qualidade e a resistência cultural, as bandeiras defendidas por Walmar em sua trajetória de artista do povo.