Páginas

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

MANOEL INÁCIO: PRIMEIRO ÍCONE POLÍTICO DE SERTÂNIA

HISTÓRICO DE MANOEL INÁCIO

Manoel Inácio da Silva Azevedo nasceu na freguesia de Alagoa de Baixo, 1838. Filho de Raimundo Ferreira Portugal, que era do Partido Conservador. Manoel Inácio era oriundo de família humilde e nutria laços com o coronelismo predominante no Nordeste brasileiro da época. Mesmo seu pai sendo do Partido Conservador, Manoel Inácio desde moço alistou-se no Partido Liberal. Sendo contrário a ideologia do pai, Manoel Inácio logo vai conquistando a simpatia do povo da freguesia, até conquistar a hegemonia local, depois de Antônio Siqueira chefe do Partido Conservador, derrotou o então líder e o primeiro chefe na freguesia Carlos José de Sá, que desgostoso, retira-se da Velha Alagoa de Baixo e entra no ostracismo da memória do município, passando a Chefia da Freguesia para Manoel Inácio.
Na Monarquia, coube-lhe exerce-lhe estes cargos. Primeiro suplente de juiz municipal e delegado de policia. Na república foi o primeiro prefeito e presidente do conselho municipal, não importando de que lado político estava o governo estadual, sempre dava um jeito de manter-se no poder, e dizia: "os governos podem mudar. Eu é que não mudo, estou sempre com o governo”.
Para Alagoa de Baixo afluíram criminosos de toda a parte, onde eram acolhidos por Manoel Inácio, que, dizia aos que o censuravam pela extrema generosidade com que dava guarida àqueles transviados da lei: “Meu filho, os bons já são protegidos por natureza. Os maus é que precisam de proteção...” E quando às vezes lhe comunicavam que seus cabras estavam se matando uns aos outros – como sucedeu no sítio Cerecé, próximo à vila, onde entravam de uma vez quatro redes de defuntos -, ele dizia a gaguejar: “Não tem nada não, é isso mesmo: as cobras é para se engolirem umas as outras...” Muitos questionavam sobre o que passava em Alagoa de Baixo:assassínios e roubos praticados por protegidos do velho patriarca verificava-se de vez em cangaceiros existentes no município, em que o velho Francisco Severo, fazendeiro residente na proximidade da vila, assim se expressou perante um promotor que assegurava sanear a comuna, prendeendo os ladrões e assassínios, se o governo lhe dessa carta branca e uma força policial obediente às suas ordens: “Este muito bom, seu doutor, mas, só tem uma coisa: se Vossa Senhoria fizer isso, aqui talvez não fique nem quem diga missa, nem quem ouça...”
Manoel Inácio era tido como um homem de bem, censurado apenas pela proteção dispensada a inúmeros criminosos que, à sua sombra, viviam impunemente no município. Entretanto, estudando-se a época em que viveu, pontificando na política do município até morrer, verificamos que o velho caudilho sertanejo foi, antes, uma vitima da circunstância que se encontravam naquela época. O chefe político que não possuísse o seu serviço a guarda proteriana, era considerada sem prestígio. Mas na terra em que o chefe policia era “valente” (asssim entendido o que podia juntar a qualquer hora umas dezenas de caboclos em armas) respeita-se o terreiro, onde os sertanejos, inermes, não eram cães sem donos.
Algumas pessoas da vila de Alagoa de Baixo, como o coronel Quinca Ingá e Albuquerque Né, discordavam com o regime de arbitrariedades reinantes na chefia política do coronel Manuel Inácio, que sempre os procurava, e, não desejavam tomar uma atitude de fraca hostilidade a um homem tão destemido.
Na política, desde o tempo da Monarquia o coronel Manoel Inácio, mandou sozinho em Alagoa de Baixo, fosse a situação liberal ou conservadora. Embora pertencesse ao partido Liberal, pouco se dava que o chefe do gabinete e o presidente da província militassem na facção adversa. Dava sempre um jeito de conserva-se à testa da prefeitura e de manter nos mesmos postos-chave os homens de sua confiança. E assim foi até a proclamação da República, quando Manoel Inácio, sem parecer tomar conhecimento do novo regime, decidiu aceitar a colaboração dos oposicionistas, antigos conservadores, que não eram seus inimigos mas que ousavam discordar, discretos, da sua prepotência. Mão-de-ferro, matreiro e articulador, sabia mover-se com desenvoltura e jogo de cintura ante a oscilação da conjuntura política. Personalidade forte e protetor dos jagunços que o ajudavam a formarem o seu pequeno exército, dando-lhes respeito e prestígio com quem era sustentáculo, um dia, irritado, fez este faticínio, que a confirma-se algum tempo depois: “Vocês vivem a contrariar-me, criando-me dificuldades, fazendo-me ingratidões. Mas, quando eu fechar os olhos, não pensem que ficam mandando na terra. Quem vai me substituir na política do município é aquele cabloquinho do Ipanema (Albuquerque Né). Não se iludam sobre isso, porque, por onde eu ando vejo rastro dele”.
Em agosto de 1898 chegou a Alagoa de Baixo o capitão de Polícia Abílio Novaes, a quem mandou ele hospedar na antiga casa da Câmara, que era um casarão de taipa, mais tarde reconstruído, situado na avenida 15 de novembro, esquina com a travessa Albuquerque Né. O capitão Abílio, depois de tomar cerveja com Manuel Inácio, expôs-lhe a que vinha. Trazia carta branca do governador Correia de Araújo para prender os criminosos existentes no município, e, como seu amigo, convidava-o a recolher os protegidos à prisão, sob pena de ir perseguí-los. O velho caudilho sertanejo, até então invulnerável no seu prestígio, recebeu aquela intimação como Aquiles ao sentir-se ferido no calcanhar. Sem se definir claramente, retirou-se para casa, adoecendo subitamente. E dois ou três dias depois falecia. Diziam, até, que fora envenenado, ao tomar a cerveja com o capitão...- o que era puro aleive.
Sepultaram no dia seguinte, com as devidas honras, pois era tenente-coronel da Guarda Nacional, cuja farda envergava pela última vez. O comerciário José Osório Firmo – caixeiro do major Manuel Ramos – fez um discurso na beira da sepultura, dando o último adeus ao “pai da pobreza”, em nome do povo.
Desaparecia assim aos 60 anos, justamente na hora em que sua estrela política começava a manifestar os primeiros sinais de empalideci mento.
Traumatismo moral? Talvez. O certo porém é que ele, chefe e mandão da terra por mais de 30 anos, tivera o destino dos velhos leões da floresta, que, cansados de rugir, deitam-se, esperando a morte. E ele era mesmo um leão das caatingas do Moxotó daquele tempo, pela bravura e magnanimidade que constituíam as suas características marcantes.
Fontes: "Moxotó Brabo, Um Sertanejo e o Sertão, Ulysses Lins de Albuquerque".

Nenhum comentário: